Embaúba e o Novíssimo (novíssimo) cinema brasileiro.

de 15 de Janeiro a 15 de Fevereiro
No início dos anos 2000, paralelo à revolução digital, uma série de movimentos cinematográficos buscaram uma renovação em meio a um desarranjo do cinema contemporâneo e suas práticas mais tradicionais, movimentos que buscaram uma renovação estimulada pelos novos equipamentos digitais. No Brasil, a partir de 2002, a identidade do cinema brasileiro mudou à medida que novas políticas públicas passaram a entregar uma prometida distribuição de recursos a serviço de um cinema diverso e verdadeiramente representativo.

A Embaúba, é hoje, umas das principais distribuidoras de filmes brasileiros no país, não apenas pelo volume, mas também pela seleção ousada e de qualidade, apostando em obras e artistas mais inovadores e desconhecidos.  A mostra Embaúba e o Novíssimo (Novíssimo) cinema brasileiro seleciona uma série de filmes lançados (e também inéditos) entre 2019 e 2022.

Estamos te esperando em casa

Direção – Cecília da Fonte e Marcelo Pedroso

Brasil, 2021, 56’

Sinopse – Mais de 600 mil mortes. Um presidente negacionista que debocha da doença. Durante os mais de dois anos de Pandemia, os profissionais de saúde do país travaram uma luta diária. Para a terapeuta ocupacional Poliana, o trabalho consistia em manter a linha tênue que ligava a vida dos pacientes com a de suas famílias.

Sobre o filme: “Um filme que tem menos de uma hora de duração, mas que certamente ativa muitos gatilhos emocionais para quase todo mundo. Vemos imagens colhidas na primeira onda da covid-19, em 2020, e a personagem principal, por assim dizer, é irmã de um dos diretores, a terapeuta ocupacional Poliana, que tem o trabalho de entrar em contato pelo celular com os familiares de pessoas que estão na UTI, muitas delas às portas da morte; outras, conseguindo se recuperar. A maioria das imagens é feita pela câmera do celular, exceto as que apresentam a intimidade de Poliana, casada com um professor e mantendo contato à distância com os pais, idosos. É triste voltar no tempo, aos tempos de lockdown, mas é mais triste lembrar dos nossos amigos queridos que se foram pela doença.”

Sementes: mulheres pretas no poder

Direção – Éthel Oliveira e Júlia Mariano

Brasil/ RJ, 2020, 105′, doc

Sinopse: Em resposta à execução de Marielle Franco, as eleições de 2018 se transformaram no maior levante político conduzido por mulheres negras que o Brasil já viu, com candidaturas em todos os estados. O documentário acompanha seis mulheres negras, em suas campanhas, mostrando que é possível transformar o luto em luta.

 

Sobre o filme: “Sob o impacto do assassinato de Marielle Franco, mulheres negras em várias partes do Brasil disputam as urnas nas eleições de 2018 para ocupar o Congresso Nacional e Assembléias Legislativas, com novas proposições do fazer político. O filme segue várias das candidatas ao longo da campanha, capturando momentos de intensidade e força de um coletivo a enfrentar a máquina da extrema direita que se apossou do cenário político e social brasileiro. Entre a observação discreta e o olhar poético sobre corpos e ações, ‘Sementes: Mulheres Pretas no Poder’ é um instantâneo de esperança e luta diante de um cenário catastrófico desenhado nos últimos anos.”

A máquina infernal

Direção – Francis Vogner dos Reis

Brasil, 2021, 30′, 12 anos

Sinopse – Uma fábula sobre o apocalipse da classe operária.

Sobre o filme: “A Máquina Infernal”, curta de estreia do roteirista Francis Vogner Dos Reis, reimagina a falência de uma fábrica do ponto de vista do empregado, trocando o realismo por um clima de puro terror. O filme foi uma das duas produções brasileiras selecionadas para o Festival de Locarno deste ano, figurando na seção internacional da Leopardos do Amanhã – principal mostra competitiva de curtas do evento.

Quem tem medo?

Direção: Dellani Lima, Henrique Zanoni e Ricardo Alves Jr.

Sinopse: A ascensão da extrema direita no Brasil a partir da perspectiva de artistas e suas obras censuradas. A partir de suas vozes, é composto um mosaico das consequências nefastas da ascensão do fascismo em nosso país.

Sobre o filme: “Quem Tem Medo?” é um documentário que registra os inúmeros casos de censura a artistas brasileiros em anos recentes, período no qual a extrema direita ampliou espaço político e social e, com isso, foi para cima de manifestações culturais que considerassem passíveis de proibição. Casos de grande repercussão envolvendo nomes como Renata Carvalho, Wagner Schwartz, Maikon K, José Neto Barbosa e as peças “Caranguejo Overdrive” (Aquela Cia de Teatro) e “RES PUBLICA 2023” (A Motosserra Perfumada) são abordados.

Rua Guaicurus

Direção: João Borges

Brasil/MG, 2019, 75′, fic

Sinopse: A rua Guaicurus é uma das maiores zonas de prostituição do Brasil, localizada no centro da cidade de Belo Horizonte, desde os anos 50. Atualmente funcionam mais de 25 hotéis na região, com aproximadamente três mil trabalhadoras do sexo. O filme vai revelar este enorme complexo de prostituição por meio de situações que eclodem das relações entre suas personagens.

Sobre o filme: “Esses artistas próximos do naturalismo constatam que só se pode captar a vida através da representação. É com esse tipo de procedimento que se tem notabilizado a atual escola mineira de cineastas. É a ela que se pode acrescentar agora João Borges, cujo “Rua Guaicurus” é o primeiro, original e notável trabalho em longa-metragem. Notável, embora não raro desigual. Mas uma coisa não anula a outra.”

Breve história do planeta verde

Direção: Santiago Loza

Argentina/ Brasil, 2019, 75′, fic

Sinopse: Um dia, Tania (Romina Escobar) recebe uma ligação dizendo que sua avó morreu. A mulher trans se reúne com os dois melhores amigos, Daniela e Pedro, para viajarem até o local do enterro, quando descobrem que a falecida passou os últimos anos de sua vida na companhia de um amigo inusitado: um pequeno alienígena roxo. O último pedido da avó era que Tania levasse a criatura de volta ao local onde foi encontrada. Começa uma jornada para o trio de amigos.

Sobre o filme: “Teddy Award de Melhor Longa-metragem no Festival de Berlim 2019. O corpo da mulher trans não é explorado por sua genitalidade, sua maquiagem, pelos olhares alheios. O corpo gay não se presta a qualquer tipo de idealização e promiscuidade, do mesmo modo que a mulher cis e hétero não se sente obrigada a se embelezar para os homens.”

O dia da posse

Direção – Allan Ribeiro

Brasil, 2021, 70’

Sinopse – Brendo quer ser presidente do Brasil. Enquanto esse dia não chega, ele estuda direito, faz vídeos para as redes, sonha com novas conquistas e se imagina em um reality show, durante a pandemia.

Sobre o filme: Novo e inédito filme de Allan Ribeiro é capaz de transformar pequenas banalidades cotidianas em grandes paisagens cinematográficas, realizando um filme ao mesmo tempo particular e universal que reflete o nosso tempo enquanto sonha novos futuros para o país. Filme de Abertura do World Premiere – 10. Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, e Menção Honrosa do Júri Oficial do Festival do Rio – Mostra Novos Rumos.

Eu, Empresa

Direção – Leon Sampaio e Marcus Curvelo

Brasil – BA/ MG, 2021, 82′

Sinopse: Um trabalhador informal enfrenta problemas financeiros e emocionais. Sem oportunidades decentes de trabalho, ele cria um canal no Youtube para tentar monetizar suas pequenas histórias de fracasso, enquanto presta serviços precarizados para empresas estrangeiras.

Sobre o filme: “Em ‘Eu, empresa’ há o escárnio do mundo contemporâneo que passou a curvar-se para um processo de ‘coachzação’: você deve ter o mindset certo, a postura correta, pensar positivo, ser o próprio chefe, ousado e ter personalidade. O personagem embarca no balaio sem um rumo concreto além das cifras e escancara alguns pontos basilares da falibilidade do meandro neoliberal e ‘meritocrático’. Melhor intérprete (Marcus Curvelo) e Melhor Roteiro no 1º Festival SatyriCine Bijou.”

Pão e gente

Direção – Renan Rovida

Brasil, 2020, 60′, 12 anos

Sinopse: Em um beco sem saída, pessoas trabalhadoras narram uma história inspirada na peça teatral A Padaria, de Brecht. À medida que narram, a história é representada. Na história, o desemprego assola, a fome também. Ana é despedida e despejada pelo padeiro Massinha, que precisa reduzir os gastos. Ela precisa viver na rua com seus 7 filhos. Eugênia consegue um emprego. Ao fim, a mulher despejada se torna empreendedora. Mas a ilusão dura pouco, pois negociam e tomam seu patrimônio, a lenha para abastecer os fornos. Eugênia e os desempregados se revoltam e ameaçam a padaria. Massinha, seus funcionários e sublocatários defendem a propriedade. Um ensaio de despossuídos sobre o pão de cada dia.

Sobre o filme: “Pão e Gente” (Renan Rovida, 2021) se baseia no dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1848-1956) para tratar da fome e do desemprego no Brasil e mescla encenação e improvisação de um grupo de atores às margens de uma sociedade cada vez mais desigual.

A Rainha Nzinga chegou

Direção: Júnia Torres e Isabel Casimira

Brasil/MG, 2019, 74′, doc

Sinopse: Antigos reinos, com suas coroas, séquitos e guardas, seus cosmos singulares, (re) existem hoje nas terras alhures das minas gerais. Três gerações de rainhas e uma travessia de volta, em visita aos domínios da mítica rainha Nzinga, e às terras dos reis do Congo, Angola, pelos descendentes da eterna Rainha da Guarda de Moçambique e Congo Treze de Maio, Isabel Casimira, presença central deste filme.

Sobre o filme: “A produção apresenta uma irmandade negra de caráter essencialmente religioso, que descende da espiritualidade e das normas praticadas há séculos por Nzinga, uma rainha e guerreira que viveu na África.”